Estou de volta, e desta vez trazendo um poema para meus leitores apreciarem- Não é de minha autoria, mas que talvez ainda faz sentido publicá-lo. Trata-se de Lisbon revisted, Álvaro Campos um heterônomio de Fernando Pessoa um outro, "eu" do autor que tinha em si, essa fama de multiplicar, de desdobrar-se em poetas imaginários para poder tratar de diversos assuntos.
Posso assim dizer que a escolha deste cujo poema para virar post no Blog Seu Gleice, não foi feita por acaso de uma hora para outra. Sua preferência dá-se justamente por sua essência, o que ele tem á nós passar através de palavras, mostrando o homem moderno(eu, e você) com suas neuroses e obsessões, sua consciência de ser fragmentado e de viver em um mundo, uma sociedade preconceituosa, com seus valores cada vez mais confusos ao qual temos a seguir para sentir parte dela, e o autor tenta á todos os custos abominá-los. Parecendo um louco diante dos outros por tentar mostrar que todos nós vivemos em uma gigantesca prisão cercada por as constantes pressões que somos submeditos, em um sentido forçados a aceitar como uma maneira de inclusão na nossa sociedade moderna.
Então desejo á todos uma ótima leitura desse excelente poema e que o mesmo possa apartir de hoje fazer parte de sua visão sobre o mundo em que vivemos. Boa Leitura!
Lisbon revisted
Não: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências( das ciências, Deus meu, das ciências!)
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso só um doido, com todo direito a sê-lo.
Com todo direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, pelo amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou, deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que haveremos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto de quem me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada querem que eu seja da companhia!
Ó céu azul - o mesmo da minha infância -
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.